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ARTIGOS

A importância do estudante de psicologia se submeter à psicoterapia: como lidar com o sofrimento humano sem saber lidar com o seu próprio sofrimento?

 

 

Todos os estudantes de psicologia são orientados por seus professores a iniciarem o processo psicoterapêutico principalmente durante o estágio em psicologia clínica. Entretanto, alguns alunos pensam assim: não quero atuar na área clínica, então não vou fazer psicoterapia, não vou precisar disso. Independente da área de trabalho, seja organizacional, jurídica, trânsito, escolar, esporte, hospitalar, além da clínica, nós trabalhamos com pessoas, o que já justifica o processo de psicoterapia para os estudantes de psicologia como obrigatório, mas sabemos que hoje embora o estudante seja orientado a fazer psicoterapia não é exigido nos cursos de graduação, o que é uma pena!

 

Alguns estudantes fizeram psicoterapia antes de iniciarem o curso de psicologia e por isso pensam que não precisam mais fazê-la e se enganam, pois o seu olhar para a psicoterapia antes de iniciar o curso era bastante diferente do seu olhar enquanto estudante de psicologia com o conhecimento adquirido no curso.

 

Pergunto a você como nós psicólogos e futuros psicólogos lidamos com o sofrimento humano sem saber lidar com o nosso próprio sofrimento? Evitamos ao máximo entrar em contato com nossas questões, porém se você tem esse comportamento e pretende ser psicólogo, principalmente clínico saiba que cedo ou tarde o que você tanto evita será trazido por seus clientes, qualquer psicólogo experiente poderá confirmar este fato.

 

Em nossa profissão somos o nosso próprio instrumento de trabalho e se nosso instrumento não estiver afinado não poderemos usá-lo da melhor maneira possível em prol do bem estar de nossos clientes. Concordo com Hycner quando o mesmo afirma que “O self do terapeuta é intrinsecamente uma parte do processo”, isto revela que não podemos separar nossa vida profissional da pessoal, por maior esforço que façamos para isso, precisamos cuidar de nossas demandas em terapia para saber diferenciar o que é nosso e o que é do cliente.

 

Para aqueles que desejam a clínica, a psicoterapia é um fator imprescindível, pois em determinado momento recebemos em nossos consultórios pessoas que nos afetam de forma profunda, e tocam em nossas próprias feridas, que se não estiverem curadas ou bem tratadas podem atrapalhar o andamento da terapia do cliente. Richard Hycner ao falar da emergência destes sentimentos por parte do terapeuta relata: “É da essência da prática psicoterapêutica evocar fortemente a tensão de polaridades opostas – muitas vezes de tal forma que se tem a impressão de que irão dilacerar a sensibilidade do terapeuta.”

 

Além disso, estando em psicoterapia o estudante experimenta o outro lado, o lado do cliente. A dificuldade em buscar ajuda para os problemas que não são solucionados sozinhos, as resistências durante a psicoterapia, a importância da formação do vínculo com o psicoterapeuta, estes são apenas algumas angústias vivenciadas pelo cliente. Além disso, o estudante poderá experienciar técnicas de manejo na clínica que poderão servir como modelo para seus futuros atendimentos como profissional, entretanto, de acordo com Hycner a orientação teórica do terapeuta não é tão importante quanto a disponibilidade do mesmo no processo de cura.

 

Para finalizar cito mais uma vez Hycner:

 

“A terapia para o terapeuta é certamente necessária, mas por si só é insuficiente. De forma alguma ela garante o desenvolvimento filosófico e pessoal e a maturidade requeridas para se empenhar em uma profissão de equilíbrio tão precário quanto a que chamamos de psicoterapia. ”

 

Apresentei aqui apenas algumas razões da importância da psicoterapia para os estudantes da área psicológica, certamente existem tantas outras. O fato é que com a psicoterapia obteremos inúmeros benefícios para o nosso crescimento pessoal e também profissional.

 

 

Fonte: De pessoa a pessoa: psicoterapia dialógica – Richard Hycner.

 

 

 

 

Agressividade  Infantil

 

A agressividade, diferente do que muitos pensam, é um comportamento saudável. Todos nós precisamos ser agressivos, seja para mastigar os alimentos que ingerimos, ou mesmo para afastar as ameaças que eventualmente possam colocar nossa vida em risco, isso quer dizer que esse comportamento faz parte da constituição do ser humano.

A agressividade só deixa de ser um comportamento saudável quando a pessoa não consegue controlar seus atos e parte para a agressão, física ou verbal a si e/ou aos outros. As causas da agressividade infantil são tantas quantas crianças existirem, não podemos associar a uma causa apenas, é preciso investigar a história da criança, suas relações familiares e escolares.

Vale lembrar que a criança não sabe o porquê do comportamento agressivo, ela age geralmente sem se dar conta do que fez ou está fazendo, quando colocamos a ela a atitude apresentada, a criança não sabe como chegou a agir daquela forma, e atribui o comportamento como reação a algo. As vezes uma briga com um amigo, ou até mesmo com um adulto com papel de autoridade.

Muitas vezes a criança é considerada agressiva quando está apenas
manifestando raiva, podendo quebrar um prato ou dar um soco em outra
criança como pura expressão de raiva. Entretanto, estes comportamentos
agressivos não são a verdadeira expressão da raiva, mas desvios dos
sentimentos reais. (OAKLANDER, 1990, p. 223)

É importante confirmar o sentimento da mesma e oferecer a ela outras formas de expressar seus sentimentos de raiva, como bater em uma almofada, rasgar papel ou desenhar usando cores que representem raiva (para a criança), são formas de canalizar a energia agressiva para algo que não seja prejudicial para ela ou para outros ao seu redor. A prática de atividade física e/ou esportiva também é um auxiliar nesse processo.

Em psicoterapia é oferecido para a criança um espaço seguro para que ela possa demonstrar sua raiva e agressividade, e aos pais a oportunidade de repensar as relações familiares e o papel de cada um na manutenção do sintoma da criança, além disso, os pais podem compartilhar suas ansiedades em relação a criança e o sintoma. Afinal, a família é um sistema, e o comportamento de um membro afeta todos os outros. Ressalto que o papel da psicoterapia não é encontrar culpados, mas buscar soluções conjuntas.

Dessa forma, buscamos compreender junto à família, à escola e na própria relação com a criança, para onde está sendo direcionada sua agressividade, qual o sentido da agressividade no contexto em que a criança está inserida. Essa compreensão só é possível em parceria com a família e a própria escola, por isso a importância do envolvimento destas no processo psicoterapêutico da criança.

 

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